Um choque elétrico
Percebi que tenho feito sempre as mesmas coisas
Eu não quero terminar
de escrever
Desde sempre é tudo sobre a mesma coisa. Tudo tem sido igual e gira ao redor de um mesmo ponto. Não há progresso. Mudança. Evolução. Pra quem vive estagnado. Tele transporte. A vida para mim só existe em um conceito. Eu queria estar agora em outro lugar. Num campo aberto e que sempre imaginei que você me esperaria, coberto de azul, minha cor preferida. No ponto mais florido. Lírios brancos, rosas de todos os tons, orquídeas se espalhando pelas árvores. Você teria um sorriso no rosto. Você representa a vida. Mas a vida para mim só existe em um conflito. O sofrimento é injustamente distribuído e dilacera a minha carne. Putrifica. Não tenho mais essência. Eu não sei quem eu sou.
Chove lá fora agora, é um dia frio. Eu poderia te dizer isso. Queria que você se sentisse aqui, perto. Nós vivemos. Eu gostaria de te repetir. Indevidamente vivemos. Nenhum de nós pediu por isso, mas vivemos. Você pode pensar algo ruim de mim, que eu não saio nunca desse ciclo indevido entre a vida e morte, mas eu simplesmente não vejo para onde ir.
A dor é interna. mas escorre por fora. Não há arranhões. Liquido. Mas escorre. Eu vejo. Você vê em mim? Talvez tenha visto. É claro que viu. Você me viu. E eu te amo por isso. Eu te dei o que achei que deveria ser seu. Preenchi você em mim. Achei que você também tivesse visto isso. Gostaria que tivesse visto, mas você não enxergou assim. Achei que fosse justo fazer as coisas assim. Espero que me perdoe pelas minhas formas. Eu te perdoo pelas suas. Embora tenha doido fundo, eu te perdoo. Não quero mais escrever. nunca. mais. palavras.
Um choque elétrico envolveu o meu corpo hoje, diluiu- se no meu sangue e esteve por mim. Eu vejo tudo agora. Embaralhei as partes do meu eu. Eu não existo ou me recuso a existir em tantos espaços. Sobre quem eu escrevo?